segunda-feira, 29 de março de 2010

Na vida real...

Recebemos um depoimento, talvez um pouco impreciso, por não se tratar de um relato vindo diretamente de quem viveu a situação, mas nem por isso, menos verdadeiro. Aliás, bom porque espontâneo. O comentário abaixo conta um pedacinho da trajetória de pessoas que, como os latino-americanos do nosso longa-metragem, não criaram raízes em suas terras e buscam a "felicidade" além das fronteiras:

Eu não passei por caso como esses (referência ao filme "Olhos Azuis"), mas conheci no Espirito Santo um amigo que passou por um certo, aliás, grande constrangimento. Não sei se esse relato ajudaria, pois estou no Rio agora e não tenho tido mais contato com ele há muito tempo. Bem, ele como bom mineiro de Valadares, tinha o sonho de morar nos EUA e um dia conseguiu o dinheiro e viajou para Miami, só que ao chegar no areroporto, foi "selecionado", revistado, interrogado e proibido de entrar no país. Teve que voltar de lá mesmo, sem permissão nem de olhar a rua do aeroporto de Miami, pois foi deportado imediatamente. Ele era um jovem mineiro, moreno claro, tipico latino... e com certeza isso contou muito.

E também, a prima da minha cunhada, brasileira, casada com um boliviano e com um filho, foram para Espanha tentar a vida, mas com a "crise" conheceram todo o tipo de dificuldades por lá e com certeza muita discriminação e vieram embora, chegaram agora no inicio de março... agora foram para a Bolivia tentar a vida lá na terra dele. (Lany Nascimento)

Se você também tem histórias sobre imigração para contar, escreva para: coevosfilmes@gmail.com e dê o seu depoimento.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ator Pernambucano em Ascenção


Diário de Pernambuco
Atuação // Melhor ator coadjuvante no 2º Festival Paulínia de Cinema, Irandhir Santos conta sobre os novos planos
André Dib

Premiado como melhor ator coadjuvante pelo trabalho no filme Olhos azuis, de José Joffily, o ator Irandhir Santos 
Foto Noticia
foi um dos destaques do 2º Festival Paulínia de Cinema. Na festa de encerramento do evento, na última quinta-feira, os aplausos e sorrisos são a prova de que o evidente talento deste pernambucano de 30 anos conquistou mais adeptos. Desta vez, não como o Maninho de Baixio das bestas ou o Quaderna, de A pedra do reino, apenas para citar dois de seus grandes momentos. E sim como Nonato, o brasileiro que há dez anos mora nos EUA, mas amarga o pão que o diabo amassou na mão de Marshall, chefe do departamento de imigração do aeroporto JFK.
Em entrevista ao Diario, Irandhir conta como construiu esse novo personagem e os desafios da interpretação em outra língua e as três novas produções em que participa: A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de Sérgio Machado sobre livro de Jorge Amado; Besouro, de João Daniel Tikhomiroff; e A hora e vez de Augusto Matraga, de Vinícius Coimbra, que será rodado em Minas Gerais, com João Miguel no papel principal. De quebra, aproveita para contar sobre os novos planos para a carreira.
Entrevista // Irandhir Santos
Qual sua visão do filme de Joffily?
É um filme que trata da questão da diferença. E deixa claro que ela existe porque impomos isso de alguma maneira, como fator externo. Quando Nonato vê a filha com olhos azuis, me pergunto o porquê de Marshall se sentir tão superior, se ele é tão igual a mim.
Como Nonato foi construído?
Li muito o roteiro, sempre desconstruindo e cortando, rasgando o personagem. A partir das orientações do diretor, acrescentei a minha parte. No roteiro há muito o Nonato empreendedor, que sai do país para ganhar a vida. Quis imaginar outras situações, trazer mais humanidade para ele.
Foi difícil interpretar em inglês?
Tive que estudar, pois não tinha muito domínio do inglês. Também fui para a cultura americana, procurei saber o que existe lá que moveria alguém a sair de seu país. Comecei a contatar brasileiros que moravam lá, fiz entrevistas, procurei imagens.
Que imagens?
Os olhos foram imagens que mais captei. Gosto muito de olhos azuis e o desafio era olhar para eles e sentir o inverso. Adoro minha avó materna, a lembrança de carinho ligada a olhos azuis vem dela. Sentir o contrário foi um desafio.
Como foi a iniciação no teatro e a formação de ator profissional?
Minha recordação mais antiga está ligada à escola em que estudei em Limoeiro. É um lugar tradicional, administrado por freiras que trabalhavam teatro e arte-educação com os alunos. Quando fui estudar o segundo grau no Recife, também queria um colégio que tivesse teatro, mas fui para o Colégio Militar, pois meus pais me convenceram que era bom para passar no vestibular. Por sorte, um dos alunos de lá se formou e retornou para dar aulas de teatro.
Quem era ele?
André Cavendish. Foi meu primeiro professor de teatro. Lá eu tive a certeza de que queria continuar no palco. Então juntei a necessidade dos meus pais de ter que fazer universidade com a minha, de fazer teatro.
Qual era seu foco de estudo na universidade?
Na UFPE eu trabalhava com o corpo como expressão. Já na universidade procurava essa linha. Tive como professor Roberto Lúcio, que desenvolveu um trabalho muito bom. Foi também quando me aproximei de amigos como Kléber Lourenço e Jorge de Paula. Em Olhos azuis, dez minutos antes de rodar a sequência da arma, utilizei exercícios que aprendi na universidade, de respiração e exaustão física pra abrir o canal para as emoções.
Qual o papel mais difícil que já fez?
Gosto quando tenho tempo para a preparação. Para mim, é primordial. No teatro é possível, geralmente tenho seis meses para isso. No cinema não é assim, mas tive sorte de pegar papéis no qual existiam esse tempo disponível. De todos, o Quaderna foi o mais difícil, pela própria complexidade do personagem. O próprio Ariano (Suassuna) o define como quatro personagens: o palhaço, o rei, o contador e o sertanejo. E o Luiz (Fernando Carvalho, diretor de A pedra do reino) me deu um Quaderna velho, amadurecido. O momento em que cada um deveria aparecer foi um desafio grande, dividido com profissionais que me deram suporte.
O que faz sua profissão valer a pena?
Ultimamente, é o fato de poder exercê-la, de poder viver isso. Só por isso, já me sinto premiado. Quando esteve em Taperoá, Fernanda Montenegro disse: “nosso prêmio é o nosso ofício”. Pois temos que enfrentar uma batalha diária, com quase todas as dificuldade e ainda lidar com o lado criativo. Equilibrar isso é a grande questão. Fico feliz quando penso no que já fiz e no que ainda tenho para fazer.
Quando você voltará ao teatro?
Ainda este ano. Estou ensaiando semanalmente com o Grupo Visível (Visível Núcleo de Criação), que Kléber Lourenço montou para retomar o ator como criador da história. O nome do projeto é Daquilo que move o mundo. Ele trabalha a dramaturgia com exercícios cênicos coordenados pelo dramaturgo Felipe Botelho. A ideia é iniciar o trabalho no Recife e no fim do ano vir pra Campinas para a preparadora Tiche Vianna, que tem um excelente trabalho com a comédia dell’arte, lapidar e fazer o que quiser com nossos corpos. Pra mim será uma retomada. Há três anos não faço teatro e esse é um grupo que gosto muito, ligado à universidade, com um senso de pesquisa e continuidade que me interessa.
Fale sobre o personagem que você faz em Besouro. Ele é um vilão?
É. Seu nome é Noca de Antonia. Para fazê-lo, tive que trabalhar com sombras. A preparadora de elenco, Fátima Toledo, disse que os capoeiristas são a luz e nós precisamos das sombras, que sou eu e o coronel. Então tive que ativar o que há de pior em mim. Sou muito recatado, mas em um dos exercícios ela me “destampou” e tudo que estava reprimido saltou com a raiva. Para ativar minha sombra falei todos os palavrões e coisas sujas.
Como foi a experiência de filmar A morte e a morte de Quincas Berro D’água, com atores veteranos como Paulo José, Marieta Severo e Mariana Ximenes?
Também foi com Fátima, só que o filme é uma comédia. Eu faço o Cabo Martin, um dos quatro amigos de Quincas. A grande questão foi trabalhar o tema morte de um grande amigo, uma grande perda. Apesar de ser comédia, tive que trabalhar de maneira muito séria. Ver Paulo José morto é algo bem doloroso, então parti daí. A ideia do Sérgio (Machado, o diretor do filme) é que o cômico não estivesse nos personagens, mas sim nas situações absurdas. Os filmes dos irmãos Cohen foram referências.
Ultimamente, você tem recebido muitos convites. O que te faz escolher um projeto?
Sempre escolho a partir do que me toca naquele momento da vida. Os filmes que faço têm me ensinado lições importantes. Trabalhar com Luís Fernando Carvalho e Cláudio Assis me fez redescobrir o lugar onde nasci. Naquele momento estava em dúvida se ficava lá ou ia para o Recife. Meu olhar para aquela região mudou muito. No caso de Olhos azuis, senti que deveria fazer pelo roteiro, uma história fantástica, por Joffily, diretor que já admirava e pelo desafio, pois a maioria das cenas são em inglês, língua em que não tenho tanta prática.
O que te atraiu na refilmagem de A hora e a vez de Augusto Matraga?
Guimarães Rosa foi primeiro autor que entrou lá em casa, período que lembro muito do meu pai. Ele lia muito e conversava sobre a obra, tinha olhar peculiar. Ele achava que Guimarães mostrava um sertão cru, forte, seco. E minha mãe via o contrário, via poesia. Então sempre havia discussão. Quando fiz A pedra do reino, me debati com o Sertão de Ariano, colorido e alegre de pessoas que se encantam com sua raiz. Agora sinto a necessidade de viver o sertão duro, seco, para haver um diálogo.

terça-feira, 23 de março de 2010

Clipping

Metrópole Cultural, março 2010:





Tatuí Filmes, março 2010:





UOL CINEMA, março 2010:

RollingStone, julho 2009:


RollingStone, julho 2009:

O Globo, julho 2009:


Blog do Bonequinho, julho 2009:





Último Segundo, julho 2009:


Revista Kodak, outubro 2008:




Outros Cartazes:










Folha Online, dezembro 1998

José Joffily finaliza filme "Olhos Azuis", sobre imigração
AJB 25/12/98 15h49

Do Rio de Janeiro

 

A situação é familiar aos milhares de brasileiros que já foram barrados pela imigração americana e submetidos ao mais humilhante dos questionários. A intolerância e o medo dos países ricos em relação aos pobres, demonstrado explicitamente na porta de entrada dos aeroportos, será o tema do próximo filme de José Joffily, "Olhos azuis", cujo roteiro está em fase final de elaboração. "Quero falar sobre o pânico que os países desenvolvidos têm diante dos imigrantes", conta Joffily, diretor de "A maldição de Sampaku" e "Quem matou Pixote?" (melhor filme em Gramado, 97). "Assim como os prédios da classe média vão se cercando de grades, os países ricos também se fecham e constroem suas próprias cercas", explica o diretor.

Nas pesquisas feitas para desenvolver o argumento de "Olhos azuis", Joffily descobriu que, nos últimos 20 anos, 1,5 milhão de jovens deixaram o Brasil. Para 80% deles, o único destino imaginado é os Estados Unidos. "Na minha época, as pessoas deixavam o Brasil por razões políticas, e os Estados Unidos eram a última opção. Hoje as motivações são outras, principalmente socioeconômicas", afirma o cineasta.

O protagonista de "Olhos azuis" é Antônio Carlos, um homem de 35 anos que visita o Brasil depois de dez anos morando fora. Um reencontro com a ex-mulher e a filha faz com que ele desista da vida de imigrante e decida voltar de vez. Mas, antes, ele precisa ir a Miami uma última vez, para buscar suas coisas e sacar as economias. Quando chega ao aeroporto, porém, é detido junto com outros sete latinos. A decisão é de Marshall, 65 anos, chefe do setor de imigração do aeroporto. No seu último dia de trabalho antes da aposentadoria, Marshall revolve "dar um exemplo" àquelas oito pessoas escolhidas ao acaso.

Além de Antônio Carlos, ficam detidos Orlando Paz, um médico boliviano que mora em Nova Iorque; Lalo, um turista chileno; Roberto e Assumpta, casal de poetas equatorianos; Antice, ex-militar argentino; Calipso, uma bailarina cubana; e Rogério, homossexual que está se tratando de Aids nos Estados Unidos. Todos latino-americanos, todos com os devidos vistos de autorização para entrar na "América", e todos submetidos à arbitrariedade de Marshall, o "porteiro da América", na definição de Joffily.

"Depois de um prólogo em que a situação é apresentada, o filme se torna um tenso drama entre quatro paredes", descreve o cineasta, que está acompanhando o desenvolvimento do roteiro escrito a quatro mãos por Jorge Duran (de "Pixote") e Melanie Dimantas (de "Carlota Joaquina"). "Vamos montar um elenco latino, o mais diversificado possível", diz. A situação vai se tornando cada vez mais delicada, ao ponto de um dos funcionários de Marshall se irritar com seus métodos e dos latinos se unirem para protestar.
O título "Olhos azuis" foi retirado de um teste que leva esse nome, aplicado pela psicóloga Jane Elliot em várias empresas dos Estados Unidos. "Ela inverte a situação e submete as pessoas que em geral estão no confortável papel dominante a um papel de humilhação e subserviência", conta Joffily. "Ela é louca, mas obtém resultados interessantíssimos". Esse teste será aplicado por Antônio Carlos em Marshall em sua tentativa de virar o jogo.

Durante a elaboração do argumento, Joffily colecionou histórias de gente que passou por situações semelhantes. "A tortura começa na hora de tirar o visto. Existe uma arrogância impressionante por parte dos funcionários que detêm esse poder", diz. "Nessas horas, não existe o politicamente correto. A cor da pele e a situação social são determinantes", acredita o cineasta.
Além de "Olhos azuis", que já está na fase de captação de recursos pela Lei do Audiovisual (e cujas filmagens provavelmente se realizarão em março), Joffily já tem outro projeto. Ele adquiriu recentemente os direitos de adaptação do livro "Achados e perdidos", segundo romance policial de Luiz Alfredo Garcia-Roza (o primeiro foi "O silêncio da chuva", que está sendo adaptado por Murilo Salles).

"Achados e perdidos" é uma história inteiramente situada em Copacabana, envolvendo o assassinato de uma prostituta e de vários meninos de rua. "Fui criado em Copacabana e o cenário me fascina. Também gosto muito da galeria de personagens que Luiz Alfredo montou", conta. O primeiro tratamento do roteiro é trabalhado por Paulo Halm ("Pequeno dicionário amoroso", "Guerra de Canudos").

Estados Unidos: Aeroporto JFK, Nova York

Em uma pequena saleta do Departamento de Imigração americano, uma espécie de aquário, vemos Marshall (David Rasche), o chefe-oficial, e seus subordinados, Bob e Sandra. Marshall está em seu último dia de trabalho, vai se aposentar e, com uma garrafa de whisky nas mãos, conduz de forma arrogante e debochada o interrogatório dos personagens latinos. Para Marshall, todos os latinos não passam de cucarachas que desejam entrar na América pelas frestas afim de sugá-la e corroê-la.

Uma espera angustiante:

A tensão na sala de espera da migra vai aumentando na medida em que passa o tempo. Eles começam a perguntar o que está acontecendo e não recebem resposta. Todos começam a ficar apreensivos quanto a sua entrada nos Estados Unidos e se questionar se realmente aqueles eram apenas procedimentos de rotina como alegavam os oficiais.

Um grupo de hondurenhos, um casal de argentinos, um brasileiro e uma cubana aguardam. Nem todos dominam o idioma novo. A cubana se vira no inglês, pronunciando as palavras pausadamente, cheias de sotaque, mas logo que descobre que o seu interlocutor é brasileiro começam a falar uma espécie de portunhol. Nonato (Irandhir Santos) que já vivia nos EUA e estava voltando de uma visita ao Brasil, aparentemente é o que está mais seguro de entrar no país e tenta até acalmar os demais. Com a demora das entrevistas, porém, começa a ficar nervoso e reclamar que pode perder a sua conexão.

O jogo:

Sandra (Erica Gimpel) e Bob (Frank Grillo) estão interessados em impressionar o chefe e quem sabe conseguir uma promoção, já que Marshall vai se aposentar no dia seguinte e pode indicar alguém para seu cargo. Há tensão também entre eles, mesmo que num clima de brincadeira. Inspirados pela chance da promoção, eles são levados a jogar segundo as regras do chefe, e fazem de tudo para tudo para tornar mais dolorosa ainda a deportação dos latinos que já haviam decidido mandar para casa, ainda que seus documentos estivessem em ordem, “quem garante que eles não falsificaram?”. 

Marshall parece avaliar o mérito do seu sucessor não pelo profissionalismo e seriedade deste ao executar as tarefas “de rotina” do departamento, mas pela sua capacidade de constranger o entrevistado, pelo nível de sarcasmo deles. Afinal, por que deveriam ter respeito para com aqueles invasores? Eles eram nada mais, nada menos, que uma ameaça à segurança e soberania americana, culpados até que se provasse o contrário. 

Acontece que Bob e Sandra não são branquinhos de olhos claros como o chefe do departamento e mesmo eles não escapam às ironias de Marshall, ora mais, ora menos diretamente, o chefe solta uma piada de escárnio aos seus subordinados. Nem a pele escura, nem a origem mexicana de alguém que é oficialmente cidadão americano e veste a mesma farda que ele, estão livres de suas chacotas. Marshall, cada vez mais entorpecido pelo álcool, começa a abusar de sua autoridade nos interrogatórios e a brincadeira começa a sair do controle de Sandra e Bob. A pressão vai num crescente até que algo inesperado acontece. 

Para saber como continua a história desses personagens não perca: OLHOS AZUIS – 28 DE MAIO NOS CINEMA.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Da ideia à ação

O filme Olhos Azuis, de José Joffily, nasceu de um depoimento. Um amigo de longa data do diretor foi interrogado no aeroporto de Nova Iorque e logo em seguida deportado. Como este amigo não tinha residência fixa no Brasil, Joffily o hospedou em sua casa. A convivência deles durou três meses e neste tempo o amigo lhe contou detalhadamente tudo o que passou no departamento de imigração americano. À experiência do amigo somaram-se relatos de outras pessoas, próximas ou nem tão próximas de Joffily e assim foi se construindo o argumento do filme.

O que se passa na sala de imigração no filme é mais ou menos factual graças a estes depoimentos que foram definitivos para a realização do filme. Histórias como a do amigo de Joffily, entretanto, não são muito raras e talvez seja este o motivo de filmes sobre este tema transmitirem quase sempre a sensação de desfecho previsível. Em Olhos Azuis, todavia, se constrói uma história de suspense, explorando não apenas a riqueza do tema, cujo problema é latente e real, mas também o comportamento dos personagens e as tomadas de decisão deles sob pressão.

Afim de levar o filme para além das telas, ampliando o espaço de catarse que a arte por si só inspira, abrimos aqui neste blog um espaço para a publicação de relatos de pessoas que, assim como os latinos do nosso filme e o amigo de José Joffily, já passaram por exeriências de persona non grata fora do seu país. Assim, convidamos a contar para nós suas histórias todos aqueles que já passaram por situações constrangedoras com o pessoal de imigração de outros países, ou conheçam outras histórias de preconceito e desrespeito ao próximo nas fronteiras.

Dê o seu depoimento! Escreva para coevosfilme@gmail.com contando o seu relato, a identificação é opicional. Obrigado.

A um carimbo do paraíso

Em Olhos Azuis na sala de espera da migra se cruzam histórias de diversos personagens. Essas pessoas, diferentes entre si, seja pelo temperamento, pelo caráter, pelas origens distintas, pelo ranço trazido de terras diferentes, seja pela aparência física, a forma como se expressam, naquele momento, porém, tinham algo em comum: todos esperavam, na ante-sala do paraíso, por um carimbo, um simples carimbo que lhes concedesse o direito de ultrapassar os portas daquela sala e poucos metros a frente entrar final e oficialmente na tão almejada América.

É conhecida a fama dos Estados Unidos da América no mundo todo, "a terra que foi beijada pela fortuna" e que em poucos séculos, se comparada à velha Europa, conseguiu construir um império imenso. Hoje os produtos norte-americanos estão espalhados pelos quatro cantos do planeta, salvo algumas ilhas de exceção. E não é de hoje que o American Way of Life é visto e, muitas vezes imitado, ao redor do mundo. Músicas, seriados, filmes e recentemente a própria internet exportam o padrão de vida americano, enfatizando e reforçando a presença americana antes já demarcada pela circulação de mercadorias oriundas dos Estados Unidos ou ainda, copiadas de lá.

Tal opulência reluz como ouro para quem vive em países de realidades menos felizes. Países pobres, de terceiro mundo, subdesenvolvidos ou “em desenvolvimento”, a tipologia certa não é tão fundamental aqui, mas em todo caso, falamos de países que não receberam a mesma baforada de sorte histórica, tal qual os irmãos da América do Norte. Países jovens que ainda não cresceram e não se sabe quando alcançarão a idade adulta.

Nesses países muitas pessoas têm o “sonho dourado” de um dia ir trabalhar nos Estados Unidos e poder ganhar dinheiro lá, prosperar como os de lá, e poder quem saber, voltar um dia para o seu país e alcançar o sonho de comprar casa, carro, criar seus filhos bem, “com tudo que têm direito”, ter seu negócio próprio... Este talvez seja o objetivo de alguns latinos que estão na saleta do departamento de imigração onde trabalha Marshall (David Rasche), como é o caso do brasileiro Nonato (Irandhir Santos).

Naquela saleta, todos querem muito entrar nos Estados Unidos. Talvez alguns deles queiram também voltar para o seu país de origem num determinado momento; outros talvez prefiram o exílio definitivo a voltar para a perversa realidade de suas casas; ou talvez optem por viver num pêndulo eterno, indo e voltando de acordo com a saudade... enfim, estas são suposições. Porém, nesta hora crucial da vida deles todos querem entrar, mas como vamos ver, o buldogue que guarda os portões americanos não está nem um pouco afim de facilitar a vida de ninguém.

Imbuído de toda aversão pelos latinos, deixando para traz qualquer código de ética, Marshal consegue transformar o que para aquelas pessoas poderia ser o primeiro passo de uma triunfante marcha ao paraíso em um tenso e asfixiante interrogatório de juízo-final.

A conferir nos cinemas em 28 de maio toda a arrogância deste homem embriagado de poder e cego pelo seu próprio preconceito.

Assista ao trailer:



sexta-feira, 19 de março de 2010

Olhos Azuis




Esta acontecendo em Porto Alegre essa semana o Festival de Verão de Cinema Internacional. Durante o festival serão exibidos muitos filmes bacanas e inéditos no circuito, entre eles, um filme que eu estava esperando muito pra ver, chamado Olhos Azuis.O filme é uma produção nacional dirigido por José Joffily (Quem Matou Pixote?), e foi bem mais além do que eu esperava. Com uma historia sufocante, narra a historia de Marshall (interpretado magistralmente por David Rasche), um homem ignorante e tido como um John Wayne do departamento de imigração do aeroporto JFK em Nova Yorque.No seu ultimo dia de trabalho, acaba tornando sua pré-aposentadoria numa tragédia horrível com um imigrante Brasileiro chamado Nonato (Irandhir Santos). Além dos interrogatórios no departamento, o filme mostra Marshall em busca de redenção no interior do Pernambuco tendo como guia uma garota que deixou a casa da familia para virar uma "puta" interpretada pela excelente Cristina Lago (que vem de um ótimo trabalho em Maré - Nossa História de Amor).O preconceito, principalmente contra latinos, é mostrado de forma tão intensa que em certo momento da narrativa, se não tivesse o paralelo, a redenção, as pessoas sairiam do cinema de tanta raiva desse cara e seu nojo por imigrantes. Uma historia tensa e verdadeira, porque os Olhos Azuis do titulo fica bem claro que é bem como nós imaginamos que sejam. O diretor conseguiu uma boa história, um bom elenco, e trabalhou desde 2007 nesse filme que chega aos cinemas pela Imagem Filmes dia 28 de maio. Um filme sobre a arrogância, o preconceito e ignorância de certas pessoas que, talvez pela falta de informação ou educação, acabam formando uma consciência errada sobre o mundo em que vivemos. O filme ganhou 6 prêmios no Festival de Paulínia em 2009 incluindo melhor filme e melhor atriz para Cristina Lago (dividido com Maria Clara Spinelli de Quanto dura o Amor?). Com certeza ainda ouviremos falar muito desse filme pelo Brasil e, podem ter certeza, pelo mundo. Nota 10!!!