segunda-feira, 22 de março de 2010

A um carimbo do paraíso

Em Olhos Azuis na sala de espera da migra se cruzam histórias de diversos personagens. Essas pessoas, diferentes entre si, seja pelo temperamento, pelo caráter, pelas origens distintas, pelo ranço trazido de terras diferentes, seja pela aparência física, a forma como se expressam, naquele momento, porém, tinham algo em comum: todos esperavam, na ante-sala do paraíso, por um carimbo, um simples carimbo que lhes concedesse o direito de ultrapassar os portas daquela sala e poucos metros a frente entrar final e oficialmente na tão almejada América.

É conhecida a fama dos Estados Unidos da América no mundo todo, "a terra que foi beijada pela fortuna" e que em poucos séculos, se comparada à velha Europa, conseguiu construir um império imenso. Hoje os produtos norte-americanos estão espalhados pelos quatro cantos do planeta, salvo algumas ilhas de exceção. E não é de hoje que o American Way of Life é visto e, muitas vezes imitado, ao redor do mundo. Músicas, seriados, filmes e recentemente a própria internet exportam o padrão de vida americano, enfatizando e reforçando a presença americana antes já demarcada pela circulação de mercadorias oriundas dos Estados Unidos ou ainda, copiadas de lá.

Tal opulência reluz como ouro para quem vive em países de realidades menos felizes. Países pobres, de terceiro mundo, subdesenvolvidos ou “em desenvolvimento”, a tipologia certa não é tão fundamental aqui, mas em todo caso, falamos de países que não receberam a mesma baforada de sorte histórica, tal qual os irmãos da América do Norte. Países jovens que ainda não cresceram e não se sabe quando alcançarão a idade adulta.

Nesses países muitas pessoas têm o “sonho dourado” de um dia ir trabalhar nos Estados Unidos e poder ganhar dinheiro lá, prosperar como os de lá, e poder quem saber, voltar um dia para o seu país e alcançar o sonho de comprar casa, carro, criar seus filhos bem, “com tudo que têm direito”, ter seu negócio próprio... Este talvez seja o objetivo de alguns latinos que estão na saleta do departamento de imigração onde trabalha Marshall (David Rasche), como é o caso do brasileiro Nonato (Irandhir Santos).

Naquela saleta, todos querem muito entrar nos Estados Unidos. Talvez alguns deles queiram também voltar para o seu país de origem num determinado momento; outros talvez prefiram o exílio definitivo a voltar para a perversa realidade de suas casas; ou talvez optem por viver num pêndulo eterno, indo e voltando de acordo com a saudade... enfim, estas são suposições. Porém, nesta hora crucial da vida deles todos querem entrar, mas como vamos ver, o buldogue que guarda os portões americanos não está nem um pouco afim de facilitar a vida de ninguém.

Imbuído de toda aversão pelos latinos, deixando para traz qualquer código de ética, Marshal consegue transformar o que para aquelas pessoas poderia ser o primeiro passo de uma triunfante marcha ao paraíso em um tenso e asfixiante interrogatório de juízo-final.

A conferir nos cinemas em 28 de maio toda a arrogância deste homem embriagado de poder e cego pelo seu próprio preconceito.

Assista ao trailer:



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