segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quando o sonho vira pesadelo

Em Olhos Azuis, José Joffily reconstrói uma parte - talvez a mais esperada - da viagem daqueles que sonham em viajar nos Estados Unidos: a entrada no país.

Nos minutos que precedem o primeiro passo em solo americano fora do aeroporto o coração está acelerado, as emoções a flor da pele. Afinal, estas pessoas se dedicaram muito tempo para conseguir pagar o bilhete aéreo e conseguir reunir todos os outros documentos necessários para conseguir a permissão de entrar no país. Porém, nem sempre ter os documentos "OK" é garantia de que vá correr tudo bem.

Existem diversos fóruns de discussão e mesmo de ajuda para aqueles que querem fazer esta viagem. No site de relacionamentos mais acessado do Brasil, o Orkut, há comunidades em que as pessoas trocam todo o tipo de informações, desde o que se pode levar nas malas, o que não se deve levar, onde e como preparar o visto, custos, prazo, melhores cidades para se viver lá... Tudo! Há realmente um grupo de interessados organizados em "fazer acontencer" este sonho. Interessante também é perceber que após cruzar esta fronteira, muitas pessoas voltam a comentar nestas comunidades, trazendo depoimentos sobre a felicidade de estar lá e, certamente, excitando ainda mais a imaginação daqueles que ainda estão tentando conseguir visto.

Há quem queira ir para lá estudar, há quem queira ir para trabalhar e há aqueles que, independente do que vão fazer lá, almejam viver nos Estados Unidos da América. 

Esta vontade tão urgente de tentar a vida lá, muitas das vezes, levou pessoas a tentarem a travessia ilegal pelo México. Em 2005, a Rede Globo produziu e exibiu a telenovela "América", escrita por Glória Perez, que mostrou um pouco deste ideal quase "fanático", de pessoas que a qualquer preço querem ir viver nos Estados Unidos para tentar lá uma vida melhor.

A novela causou polêmica entre brasileiros que já viviam nos Estados Unidos, como se pode ler nesta matéria da BBC Brasil, dividindo a opinião: alguns se identificavam com o drama vivido pela personagem Sol (Débora Secco) e outros criticavam o que consideravam exagerado nas dificuldades que a personagem enfrentou.

Histórias reais, parecidas com as de Sol e dos latino-americanos do filme de Joffily é que não faltam. O filme Olhos Azuis, que vai para as telonas em 28 de maio, mostra toda a tensão já dentro do departamento de imigração americano, a barreira enfrentada por quem tenta fazer a entrada pela porta da frente, mas há também muitos relatos e notícias de pessoas que passaram por situações quase inacreditáveis ao tentar fazer a travessia ilegal, via México, como a jovem brasileira da notícia abaixo:

BBC Brasil:
Paulista teve que nadar e correr por duas noites

Quando pegou o vôo de São Paulo para o México, no dia 9 de maio, a paulista Daniela, 21 anos, nem imaginava como seriam seus próximos dias. Ela queria morar nos Estados Unidos e, depois de ter o visto americano recusado pelo consulado, achou que tinha um bom plano para entrar no país.

Daniela estudava inglês na cidade onde mora, no interior do Estado, e achava que nunca seria fluente no idioma se não passasse uma temporada nos Estados Unidos.

Estimulada por amigos que já viviam no Texas, ela decidiu arriscar a travessia ilegal via México, a exemplo do que fez uma amiga, alguns anos atrás. Daniela pagou um agenciador – um "coyote", como eles são conhecidos aqui nesta região da fronteira – para organizar a travessia de carro por uma das pontes que cortam o Rio Grande, na divisa do México com o Estado do Texas.

Mas a travessia fácil que ela tinha planejado – e pela qual combinou que pagaria US$ 2,7 mil – não aconteceu. Ela teve que atravessar o rio a nado.

"Quando me contaram que teria que nadar, pensei que fosse um córrego, com água até a cintura", contou Daniela. Bem diferente disto, o Rio Grande é estreito, mas é fundo, rápido, com uma correnteza perigosa, que às vezes não é vista da superfície.
Pacote turístico
A viagem começou com um pacote turístico para Cancún, com conexão na Cidade do México. Fazendo a rota de milhares de brasileiros todos os anos, ela não despertou desconfiança dos oficiais de Imigração que carimbaram seu passaporte na capital mexicana.
Mas Daniela não pegou o avião para Cancún. Ela passou o dia no aeroporto e no fim da tarde tomou um outro, para Reynosa, na margem mexicana do Rio Grande, divisa com os Estados Unidos.
 Eu não escolhi passar por isso. Pensei que fosse passar de carro, e no caminho tudo foi mudando.
Daniela
Foi aí que começaram as dificuldades. Única não mexicana do vôo, Daniela foi colocada numa sala e questionada durante várias horas por funcionários da Imigração de Reynosa, que só a liberaram quando o aeroporto estava para fechar, depois de pedir US$ 300. O tempo todo ela disse que estava na cidade para visitar amigos.
O pagamento de propinas a oficiais de Imigração mexicanos foi relatado ao cônsul brasileiro em Houston, Milton Torres da Silva, por vários brasileiros presos nos centros de detenção aguardando deportação para o Brasil.
"Eles me contaram que foram subornados por pessoas de farda, alguns já no aeroporto da Cidade do México", disse o cônsul.
Do aeroporto, Daniela foi levada ao Hotel Conchita, por um taxista arranjado pelo funcionário de Imigração, que não cobrou a corrida e fez questão de levá-la até a porta do quarto.
Ela recebeu telefonemas de um outro agenciador, oferecendo-se para levá-la até os Estados Unidos, mas a aventura começou mesmo quando ela foi contactada pelo coyote com quem tinha combinado a viagem, ainda no Brasil.
Só aí ela ficou sabendo que não atravessaria a ponte de carro, como tinha sido combinado, mas a nado. "Minha mãe queria que eu voltasse, mas eu resolvi seguir assim mesmo, porque não me dei conta do perigo e das dificuldades", contou.
Pneu de caminhão
Ela atravessou o rio, com a ajuda de uma câmara de pneu de caminhão. Eram duas mulheres, quatro homens e dois coyotes. "Atravessamos o rio e depois corremos, corremos até que não aguentei mais", contou.
Rio em Reynosa, fronteira México-Estados Unidos
Imigrantes combinam travessia de carro mas precisam cruzar fronteira a nado
Depois de andar e correr a noite inteira, foram recolhidos por uma pessoa de carro, que os levou até um hotel, onde passaram o dia sem poder sair do quarto.
Na noite seguinte, andaram de carro por uma hora e passaram outra noite andando e correndo por uma trilha no mato, na beira da estrada.
"De manhã chegamos a uma parada de caminhão, onde descansamos um pouco, veio um carro que nos levou até outro hotel. Depois veio uma perua que nos levou até Houston", contou Daniela.
"No total a viagem durou dois dias e duas noites. Dois dias escondida no hotel e duas noites andando."
Quando finalmente chegou a um local que considerou seguro, Daniela ficou uma semana de cama, delirando à noite, pensando nos perigos pelos quais passou. "É muito perigoso. Eu tive sorte, mas não aconselho ninguém a passar por isso", diz ela. (...) continua aqui
Esta notícia, como o depoimento de Jairo Macedo Sierra sobre a experiência de sua amiga com a imigração inglesa que reproduzímos aqui neste blog é outra história que parece filme. Quase inacreditável, não? 






Não perca de vista: Olhos Azuis - 28 de maio, nos cinemas.


Confira o trailer.

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