segunda-feira, 14 de junho de 2010

Atores de 'Olhos azuis' falam das diferenças entre Brasil e EUA

Do site JB Online, por Jornal do Brasil

       David Rasche e Irandhir Santos. O primeiro é um americano que ganhou fama no Brasil nos anos 80 parodiando Dirty Harry com a série Na mira do tira. O segundo nasceu em Pernambuco, e firma-se como um dos valores crescentes do cinema nacional. Trajetórias distintas, com dois pontos em comum: ambos ganharam ex aequo o prêmio de Melhor Ator no último Festival de Cinema Brasileiro de Paris, e ambos dividem a cena em Olhos azuis, drama sobre a imigração dirigido sobre José Joffily, que estreia nesta sexta-feira no Rio. A convite do Caderno B, realizaram um bate-papo sobre seus papeis. Rasche vive um chefe do Departamento de Imigração do aeroporto JFK, em Nova York, que decide comemorar seu último dia de trabalho complicando a entrada de latinos. Santos é um imigrante que tem sua entrada no país barrada por Marshall (Rasche). Mas uma reviravolta trará o intolerante americano ao Brasil – em busca de redenção.

>> Irandhir Santos | David Rasche pergunta:
 
Para você, qual a imagem que os brasileiros têm dos norte-americanos?

Uma imagem relacionada ao poder, ao desenvolvimento econômico, à riqueza. Mas ao mesmo tempo, é uma imagem manchada pela prepotência e pela intolerância.

E a imagem inversa? Como você imagina que os americanos enxergam vocês, brasileiros?

Nunca estive nos Estados Unidos. Mas acredito que seja uma imagem de um povo, em sua essência, festivo.

Acha que 'Olhos azuis' fala sobre esses preconceitos? Se sim, de que forma?

Eu creio que Olhos azuis fala de temas importantes como a difícil situação do imigrante, a relação de poder entre os americanos e as pessoas que querem morar lá, e a nação como pressuposto de criminalidade, de terrorismo. Esses são os pontos importantes abordados no filme.

Você já havia trabalhado com profissionais americanos antes de 'Olhos azuis'?

Não, nunca. Vocês foram os primeiros e a experiência foi ótima. Espero repeti-la.

Suas impressões sobre os americanos mudaram ou continuaram as mesmas depois dessa experiência?


O contato com os colegas americanos resultou em uma experiência extremamente prazerosa de aprendizado mútuo. E ninguém permanece o mesmo depois de algo assim. Agora não sou mais o mesmo.

Qual você acha que será a reação do publico para a historia de um americano que após cometer um erro busca a redenção?

Difícil dizer. Para mim, só acredito que a redenção se dáa partir do encontro de Marshall, o seu personagem, com a menina, filha de Nonato, meu personagem. Porque naquele momento as diferenças se acabam.

Qual você acha que será a diferença de reação entre brasileiros e americanos ao assistirem ao filme?

Para os brasileiros, a identificação direta com a dor sofrida não só por Nonato mas pelos latinos. Em relação aos americanos, acredito que, ao assistir ao filme, vão se perguntar: por que será que um latino-americano, de um país tão festivo como o Brasil, resolveu fazer um filme dessa maneira? Entende?

Você chegou a ficar confuso no set, onde se falavam três línguas diferentes?

Sabe que não? Não fiquei confuso. Até porque começou a ter outro tipo de linguagem lá. A linguagem do cinema.

Qual você considera a melhor parte da minha performance no filme? Você não precisa responder esta...

Essa pergunta é ótima! Sem dúvida, foram as farpas atiradas por seu personagem, que desestabilizam por completo o meu personagem.

>> David Rasche | Irandhir pergunta:


Durante as filmagens no Brasil, você chegou a ser reconhecido pelas pessoas que lembravam do seriado 'Na mira do tira'?

Sim, o que me surpreendeu. Nas ruas do Rio, as pessoas lembravam de mim não só por causa da série, mas também por filmes que fiz. Não sabia que Na mira tinha sido tão popular.

Marshall, seu personagem, é cheio de preconceitos contra os latino-americanos. Qual é sua visão pessoal sobre nós, latinos?

Amei o Brasil e os brasileiros. São calorosos, lindos, divertidos, inteligentes e criativos. Sim, meu personagem era cheio de preconceitos, e como costuma acontecer, seus preconceitos vinham da inveja; ele se ressente, por exemplo, do fato de o turista brasileiro ganhar mais dinheiro que ele. O coração de Marshall era cheio de decepções e ódio, ele era cruel e e muito de sua atitude é característica da xenofobia dos americanos. Mas o que faz do filme tão interessante é que a história não se resume a “Marshall é ruim e os brasileiros são bons”. A vida é muito complexa e o certo e o errado raramente estão em lados totalmente opostos. Não sei se é fácil para os brasileiros aceitarem que o americano, no fim das contas, não era de todo mau.

Como os brasileiros encaram os americanos?

Bem, meu personagem é o “Americano feio”, que encarna todas as características negativas que tantos associam aos Estados Unidos. E a produtora do filme, Heloisa Rezende, me disse que as pessoas da equipe temiam que eu, na vida real, fosse exatamente como o personagem. No final acho que eles ficaram surpresos ao ver que tinham um amigo nas mãos, e não um inimigo.

E o inverso? Como o brasileiro é visto pelos americanos?

Não conhecemos o suficiente sobre o Brasil ou sobre os brasileiros. Muito do que sabemos sobre você vem da música. Mesmo antes de eu vir ao Brasil, a bossa nova era meu estilo musical favorito. Chico Buarque, Baden Powell, João Gilberto, Caetano Veloso...

Acha que aprendeu algo com a experiência de trabalhar com um elenco multinacional?

Fiquei muito, muito impressionado com todos. Podemos falar línguas diferente, mas compartilhamos da mesma disciplina. Aprendi que a América Latina está cheia de artistas maravilhosos.

Qual a principal diferença de estilo entre os diretores americanos e o trabalho de José Joffily?


Joffily colabora muito com os atores. Está sempre aberto a qualquer ideia. No fim, a decisão é dele, mas em vez de excluir as ideias dos outros, ele as inclui. Isso faz com que todos se sintam um pouco responsáveis pelo resultado final. Não conhecia sua obra antes, mas agora estou bem familiarizado com seus filmes.

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