Bia (Cristina Lago) vai ao encontro de Marshall (David Rasche) nas ruas de Pernambuco, em cena de "Olhos Azuis"
SÃO PAULO - Vencedor do principal prêmio do Festival de Paulínia do ano passado, "Olhos Azuis", dirigido por José Joffily, traz Irandhir Santos ("Quincas Berro D'Água") no papel de Nonato, um brasileiro que construiu sua vida nos Estados Unidos e é impedido de entrar novamente no país depois de passar férias em sua terra natal. O filme, roteirizado por Paulo Halm e Melanie Dimantas, estreia em circuito nacional.
Há duas linhas narrativas em "Olhos Azuis". A primeira é um embate entre Nonato e um oficial da imigração norte-americana, Marshall (David Rasche, de "Queime depois de ler"), numa pequena sala num aeroporto. O brasileiro acaba de chegar de viagem e é barrado - num processo aleatório, no qual um grupo de americanos escolhe meia dúzia de passaportes e resolve questionar essas pessoas que tentam entrar no país.
Marshall trabalha com dois colegas, Sandra (Erica Gimpel) e Bob (Frank Grillo), e está em seu último dia de atividade. Ele foi forçado a se aposentar e deverá passar o cargo. Ele não está em seu estado normal, bebeu demais e está disposto a comprar briga com qualquer pessoa.
Na outra linha, o mesmo Marshall já não é mais o mesmo sujeito bem arrumado e barbeado que barrava as pessoas que queriam entrar nos EUA. Mais velho e desleixado com a aparência, ele está no Brasil, em busca de uma garotinha cuja imagem ele vê numa câmera.
Aos poucos, a história de "Olhos Azuis" se abre e descobrimos que o americano está no país em busca da filha de Nonato e crê ter uma dívida com ela. Não é difícil de imaginar, em poucos minutos de filme, que o conflito entre Nonato e Marshall não acabou bem. No entanto, as duas tramas vão se entrecortando ao longo de quase duas horas de filme.
Joffily é um diretor com experiência em ficção ("Dois Perdidos numa noite suja", "Achados e Perdidos") e documentários ("Vocação do Poder"). Neste novo filme, imprime tensão nas duas narrativas, construídas em cima da dúvida de como os personagens chegaram no ponto em que estão.
Tecnicamente, o filme também deixa bem clara cada história, com fotografia diferente para cada uma. Nos Estados Unidos, todas as cenas são na sala do aeroporto, com planos mais fechados e iluminação artificial. No nordeste do Brasil, as cenas são bem iluminadas, quase sempre com luz natural, e os planos valorizam a paisagem local.
Apesar de sua boa intenção, em alguns momentos, "Olhos Azuis" esbarra em inconsistências. No Brasil, Marshall recebe ajuda de uma garota de programa (Cristina Lago, de "Maré - Nossa história de amor"). Ela é mais um catalisador na narrativa do que um personagem. Com domínio bastante bom do inglês, ela serve de ponte para o americano em sua investigação. No entanto, ela nunca questiona ou estranha essa busca. O mesmo acontece com as pessoas que cruzam os caminhos da dupla, que sempre fornecem informações sem a menor cautela.
Em meio a essas fragilidades, ganha força então o trabalho do ator pernambucano Irandhir Santos - em seu terceiro filme a chegar às telas no mês de maio. Além de "Olhos Azuis" e "Quincas Berro D'Água", ele é o narrador de "Viajo porque preciso, volto porque te amo". Aqui, ele é a alma desesperada do filme, um personagem preso no limbo de um aeroporto, sem pertencer nem ao Brasil nem aos Estados Unidos. A imagem de desespero de Nonato é o que fica gravado do filme.
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