segunda-feira, 24 de maio de 2010

Irandhir Santos é 'o cara', e a cara da vez no cinema nacional

G1 - Pop e Arte, por Ronaldo Pelli, maio 2010

Onipresente nas telas, ator se junta ao time de Nachtergaele e João Miguel.
Ele está em 'Quincas Berro Dágua', 'Olhos azuis' e 'Tropa de elite 2'.

Você talvez não se lembre de imediato do nome Irandhir Santos, mas certamente o rosto do ator vai ficar cada vez mais familiar para quem acompanha o cinema nacional. Só neste mês, ele está nos filmes “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, já em cartaz, em “Quincas Berro Dágua”, que estreia na sexta (21) e em “Olhos azuis”, que chegará às telas no dia 28.

Além desses, Irandhir também faz um dos principais papéis de “Tropa de elite 2” - longa que é aposta de sucesso nas bilheterias - e já se prepara para filmar no segundo semestre “A febre do rato”, novo projeto do diretor Claudio Assis.

Irandhir (esquerda) carrega 'Quincas' (Paulo José) junto com Flávio Bauraqui (Foto: Divulgação)

Mesmo assim, ele não se acha "o cara” da vez no cinema. “Sou apenas o cara que está gostando de fazer cinema”, diverte-se. O acanhado pernambucano, que começou a aparecer para o Brasil em “Cinema, aspirinas e urubus” (2005), do conterrâneo Marcelo Gomes, repete uma trajetória de outros atores, como Matheus Nachtergaele, João Miguel e Dira Paes. Todos tiveram suas fases e foram "a cara” do cinema nacional nos últimos anos.

Em “Quincas”, interpreta o cabo Martim, que comanda a tropa de amigos boêmios de Quincas, vivido por Paulo José, que vão levá-lo para passear pelas ruas de Salvador, mesmo morto.

“O ‘Quincas’ foi desafiador porque foi feito todo em noturna. A gente passou quase oito semanas filmando à noite, trocou o dia pela noite. Isso, fisicamente, era difícil de fazer, mas teve uma força de vontade da equipe, com o grande motor da equipe sendo o Paulo José. Ele veio com uma energia especial para esse projeto e contagiou todo mundo”, explicou Irandhir


Cinema: uma necessidade

Curiosamente, a sua entrada no cinema foi por uma questão de necessidade. Filho de um bancário que se mudava constantemente, Irandhir explica que eram raras as salas de cinema nas pequenas cidades do interior. O jeito para se aproximar dos filmes foi, então, participar de um deles.
“Desde criança gosto de cinema, sou um grande espectador. E quando eu tive a primeira oportunidade, comecei a fazer os filmes.”
Talvez por essa infância nômade, ele goste tanto de ficar em casa, e nem pensa, por enquanto, em sair de Recife.

“Hoje independe o lugar onde você vive. Não é determinante morar no eixo efervescente, onde se encontram as produções. Com a experiência que venho tendo, descobri em mim o prazer de permanecer. De viver as histórias que eu tenho aqui da minha terra.”


Em 'Tropa 2', Irandhir faz um professor que luta pelos direitos humanos (Foto: Divulgação / Alex Lima)

Local, universal

O Nordeste é tão presente para Irandhir que aparece em sua obra até em seu primeiro e único, por enquanto, trabalho para a TV: ele foi o Quaderna, protagonista da série “A pedra do reino”, projeto do diretor Luiz Fernando Carvalho.
“Foi um período especial na minha vida com imersão no trabalho muito forte. Devido à característica do Luiz Fernando Carvalho de trabalho. Ele nos levou para o sertão da Paraíba onde passamos quase cinco meses, dentro do que seria o seria o cenário, na cidade narrada no livro de Ariano Suassuna, cercado de profissionais, que eram verdadeiros professores. Me senti numa segunda universidade”, diz Irandhir que é formado em Artes Cênicas.


Mas, apesar de ressaltar bastante as raízes, Irandhir acredita que, quanto mais se explora essas mesmas raízes, mais se é universal. E usa o próprio Ariano Suassuna, a quem considera como uma espécie de ídolo, para explicar o seu raciocínio.
“Gosto muito do jeito que Ariano escreve, tão fiel às suas raízes, mas tão profundo, que extrapola os limites. Ele foi o início. Ele que povoou a minha mente na adolescência. Foi ele o responsável por estar pisando num palco, nas primeiras peças que fiz na escola e até amadoras: foram textos de Ariano.”
Ariano, porém, não é o único a quem Irandhir considera capaz de falar, ao mesmo tempo, sobre o local e o universal. O “Quincas”, de Sérgio Machado, também é um exemplo.

“O que eu gostei muito é que (o filme) é a cara da Bahia, mas ele vai tão profundo na raiz dele que levanta temas universais. Amizade, o filme é uma grande celebração à vida, e o Sérgio (Machado) pontua muito bem isso. Para os atores que não eram de lá, foi o grande gancho para a gente se sentir à vontade nessa história.”

'Olhos azuis' traz Irandhir como imigrante ilegal nos Estados Unidos. (Foto: Divulgação)

Mesmo “Tropa de Elite 2” tem essa característica para ele. Seu personagem, o professor de história Diogo Fraga bate de frente com a política de segurança pública do Rio de Janeiro. Defensor dos direitos humanos, Diogo é contra todo mundo que for a favor da estrutura política vigente fluminense – inclusive aí um tal de capitão Nascimento.


“O meu personagem vem para dizer que há outras forças de resolver a criminalidade além da violência. Que o narcotráfico, sim, é um problema, mas que a polícia também acaba sendo um problema quando ela quer resolver tudo na medida força. E é também um problema que extrapola o estado do Rio de Janeiro.”

Fronteiras

Outro filme que fala sobre a questão das fronteiras – mas dessa vez, literalmente – é o longa “Olhos azuis”, de José Joffily. Nele, Irandhir é Nonato, um emigrante brasileiro que mora nos EUA e tenta entrar no país que adotou, mas encontra um policial que implica com ele.
“Nunca fui aos EUA e nunca vivi uma experiência parecida com o filme, mas tenho relatos de pessoas próximas. O próprio Joffily me fez conhecer algumas pessoas que passaram por isso.. Como é difícil essa questão do imigrante, do estrangeiro lá fora”, questiona, para completar: “Diferente do Nonato, eu vou para outros estados, trabalho e volto. Aqui que eu permaneço”.
“Aqui” bem que poderia ser o cinema.

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